Furos no Pacote: “lobos” e “chapeuzinhos vermelhos” no Planalto

Começo pontuando sinais evidentes e preocupantes, do "sanatório geral" em desfile no País do Carnaval, nestes dias do Pacote Fiscal (no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também conhecido como pacote de controle de gastos (pois sim!): a disparada do dólar desde a semana passada; o temor da volta da inflação, com aumentos reais (ou mal disfarçados) dos preços nos supermercados, lojas e serviços, neste fim de ano.  

Sem falar dos ruídos, cada vez mais intensos, dos confrontos internos no governo, tantas as artimanhas de gestores e políticos em seus jogos de interesses imediatos e falta de “visão em perspectiva que não alcança um palmo além do próprio umbigo em boa parte dos nossos homens públicos”, como ouvi do ex-governador e líder nacional Leonel Brizola, na penúltima fase de seu exílio no Uruguai.

Refiro-me às tensões e ruídos causados pelo pacote lançado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em fala através de cadeia de TV e Rádio, que ainda causa abalos, a ponto de colocar em dúvidas – e em xeque – a oportunidade e o sentido verdadeiro do plano. Em suma, o pacote não consegue esconder, nem disfarçar seus muitos furos e não se segura em pé.

No olho deste furacão de fim de ano estão o dono da chave do cofre no Ministério da Fazenda, Fernando Haddad e o poderoso ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que duelam desde o começo do governo.

O político baiano é daqueles que não é de levar desaforo para casa, anda de cara fechada e reage duramente às críticas, principalmente quando citado como “gastador”. No dia 28/11, ele reclamou dos ataques do mercado (ou da Faria Lima, como dizem alguns) em relação às medidas para cortes de gastos, em especial quanto ao fato de ter sido jogado às calendas a redução na cobrança do Imposto de Renda para faixas tributárias de menores rendimentos, uma das principais promessas de campanha de Lula na eleição passada. Isso seria a causa do dólar pular para além dos R$ 6, e da agitação que se amplia no Congresso, e dificulta, “em muito”, a aprovação das medidas mais essenciais e urgentes, como insinuou esta semana, no velho estilo “ou dá ou desce”, o presidente da Câmara, Arthur Lira.

Rui Costa diz que não vai alimentar “essa coisa usada como apuração e que busca intriga e dissonância dentro do governo”. Mas joga mais combustível, ao acrescentar: “já é tempo de deixar de lado a narrativa de que, dentro do governo há “lobos maus e chapeuzinhos vermelhos”: E adverte com enviesada retórica: “Quem apostar contra o Brasil vai perder”. Artimanhas de poder e de gesta, com sinais trocados.

O próprio ministro Haddad já admite alterações, em breve, no pacote recém lançado, mesmo diante da afirmativa de Rui Costa, de que não houve quebra de expectativa em relação ao anúncio da reforma do IR. Ele afirma ter certeza de que "a medida será aprovada pela população que deseja justiça social”. A conferir, pois não é bem isso o que revelam as pesquisas de opinião mais recentes. 

Por agora, para além da retórica do contra e a favor, o que a sociedade demonstra desejar mesmo, são planos de reformas estruturais, com saídas convincentes para uma questão essencial neste debate do pacote: “como conter o Estado gastador, dentro dos limitados recursos do orçamento”. E promover reformas estruturais de verdade, em lugar dos pacotes cosméticos de antes, de agora e de sempre até aqui.

*Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br