Pessoas da minha idade costumam ser conhecidas como contadores de história e eu não fujo a regra. Nos anos que eu lecionava em universidades, eu costumava dizer que quando eu repetisse uma história era porque a memória falhava e eu pedia aos alunos que não rissem e considerassem como se fora a primeira vez. Repito aqui uma das histórias que gosto muito e que certamente já transformei em um dos meus artigos semanais. Muitas vezes medidas simples e criativas podem ser usadas na resolução de problemas de difícil resposta como nos exemplos que relato a seguir.
Certa vez um gerente de um hotel vivia recebendo reclamações dos hospedes insatisfeitos com o tempo de espera nos elevadores. O administrador fez de tudo sem conseguir eliminar as insatisfações. Programava as paradas de um dos elevadores para os andares ímpares e as do outro para os andares pares. Ou, então, um ia até o 10º andar e o outro do 11º em diante. Uma auxiliar de limpeza deu a seguinte sugestão: revista as paredes dos halls dos elevadores com espelhos. Assim, os homens passariam a ajustar os nós das gravatas, as mulheres a dar um jeito nos cabelos e o tempo para eles passaria mais depressa. O gerente acolheu a sugestão e o problema foi resolvido.
Uma eletrosiderúrgica localizada nos arredores de Salvador, às margens da BR-324, estava sendo pressionada pela comunidade local, diretamente ou através dos órgãos de controle ambiental, para eliminar a poluição causada pela fumaça dos altos fornos abertos, de tecnologia mais antiga. A colocação de precipitadores eletrostáticos, lavadores de gases e a mudança no desenho dos fornos não resolveram os problemas e os ambientalistas faziam ameaças com multas e fechamento da usina. Um funcionário da empresa, encarregado da manutenção das áreas verdes, sugeriu a plantação de uma cortina de eucaliptos e bambus entre a fábrica e a rodovia. Como o vento predominante era no sentido contrário à zona urbana e à rodovia, a fumaça poluente não mais seria vista. Assim foi feito e as reclamações cessaram.
Numa reunião dos condôminos de um shopping center discutia-se a instalação de mais um conjunto de elevadores para melhorar o trânsito das pessoas de um andar para outro. A falta de espaço dificultava o encontro de uma solução. Um operário que por acaso estava dependurado num balancim, fazendo a limpeza dos vidros pelo lado de fora, escutou a conversa e procurou a um dos participantes da reunião sugerindo a instalação dos elevadores na parte externa do edifício. A sugestão foi aceita e foi, assim, inventado o elevador panorâmico.
Uma equipe de marketing de um fabricante de dentifrício estudava novas medidas para aumentar as vendas que estavam perdendo espaço para a concorrência. Nenhuma das alternativas parecia satisfatória. O rapaz que servia o cafezinho ouviu a conversa e após a reunião sugeriu a um dos participantes o aumento do diâmetro do orifício de saída do creme dental do tubo. A sugestão foi aceita e contribuiu para aumento das vendas.
Em uma empresa era comum encontrar com frequência caixas da embalagem vazias, sem o produto. A equipe de produção ficou encarregada de resolver o problema. Técnicos foram acionados e, após três meses, apresentaram uma balança eletrônica que deveria ser colocada na linha de produção. Toda vez que a caixa passasse vazia ela acionava um dispositivo que lançava a caixa para fora. O engenho foi instalado e as reclamações desapareceram. O Diretor foi ao local para testemunhar o funcionamento da invenção ficando surpreso quando viu o equipamento desligado. O operador explicou que a balança parava sempre, dava muito trabalho para ser calibrada e, então, decidiu substituí-la por um ventilador. Quando a embalagem vazia passava o vento empurrava-a para fora da linha de produção.
Muitas sugestões inovadoras podem resolver problemas complexos. Isso acontece no ambiente privado e na administração pública, quando a aplicação de um novo procedimento, para aumentar a receita ou reduzir custos, por exemplo, podem surgir de proposição de pessoas simples, evitando às vezes que aconteça desastres enormes na economia, na política ou em qualquer outro ambiente da sociedade.
Tem sido frequente o noticiário de como resolver o problema dos celulares nas celas das prisões, muitas vezes usados para comunicações com o exterior. São experimentadas novas tecnologias de bloqueio do sinal, intensificação das apreensões durante as visitas e outras práticas capazes de fazer cumprir a proibição do uso do celular nos presídios. Ouvi de um eletricista muito curioso que o problema poderia ser resolvido se fossem, de alguma forma, eliminadas as tomadas das celas, eliminando os carregamentos.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – adary347@gmail.com
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