O deputado Arthur Lira se foi do comando da Câmara, onde atuou em estilo “trator das Alagoas", passando por cima de poderes, pessoas e de princípios, (aparentemente sem deixar saudade) abrindo caminhos para o conciliador Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba que, em arrancada fulminante, ultrapassou nomes tidos como Pule de 10 (os deputados da Bahia, Elmar Nascimento e Antonio Brito) e chega na Casa parlamentar e legislativa acenando com citações de Ulysses Guimarães – o Senhor Constituição, condutor da resistência democrática no País – com destaque para a frase “tenho ódio e nojo de ditadura”, repetida pelo novo dirigente da Câmara no seu primeiro discurso depois de eleito para comandar os deputados em convulsão e “guerra de bonés”.
Atitudes simbólicas e factuais interpretadas, em muitos arraiais da política nacional, como destinadas a estimular, a partir do próprio Motta, o deslocamento de pilares fortes do Centrão, – que já sinalizam afastamento da liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus surtos de extremismos direitistas, – em b usca do colo e afagos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda metade de seu terceiro mandato, que pode ainda não ser o último, a avaliar pelas pesquisas de opinião mais recentes e a entrevista desta semanas a rádios de Minas Gerais.
Eleitos com votação das mais expressivas, – para conduzir as duas cada vez mais poderosas e insaciáveis casas do Legislativo brasileiro (quanto a vantagens orçamentárias e gastos sem prestação de contas), – ambos, de saída, deixaram patente que dois pedaços cruciais do Poder Legislativo têm novos comandantes, dispostos a não deixar vazio nenhum espaço de mando e de prerrogativas decisórias que a Constituição e as normas do país lhes atribuem. Mesmo que muitos de seus pares e analistas considerem que os primeiros movimentos, dos dois, não vão além de jogo de cena estratégico na demarcação de territórios. Neste cenário não só os lances palacianos do Executivo precisam ser olhados com lupa, mas também, e com muita atenção, terá de ser levada em conta a voz do Poder Judiciário, que, no dia da posse no Congresso, se fez ouvir principalmente na fala do ministro presidente do STF, Luiz Roberto Barroso, ao lembrar que harmonia e independência dos três poderes da República se consolidam nos fatos e não nos discursos e gestos formais e protocolares, por mais expressivos que sejam.
Assim, desde a primeira fala no plenário da simbólica casa, mesmo sendo Alcolumbre o presidente do Congresso basileiro, é Motta, – com a força dos 444 votos recebidos, de parlamentares de todos os partidos, incluindo o PT – que tem causado impacto em seus significativos e aparentemente firmes e planejados movimentos no delicado jogo político, econômico e ideológico, que vai além da “guerra de bonés”, entre bolsonaristas e lulistas, ensaiada no plenário do Congresso na solenidade de posse dos novos dirigentes das duas casas parlamentares (contida, por apelo de “bom senso e ordem”, de Davi Alcolumbre.
Mas em suas falas e iniciativas (incluindo conversas com o presidente Lula, o ex – Bolsonaro e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad) é o bem falante e hábil negociador, quem mais brilha no Congresso, desde que o placar eletrônico exibiu o total de votos que o elegeram para mandar na Câmara nos próximos dois anos. “Para mim, boné serve para proteger a cabeça do sol, e não para para resolver os problemas do Brasil”, avisa Motta. O resto a ver.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail:
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