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Vitor Hugo Soares

Idos de Março a Abril: filme, novela e a dor que atravessa gerações

Por Vitor Hugo Soares


Tribuna da Bahia, Salvador
05/04/2025 09:00
1 dia, 20 horas e 15 minutos

Brasil, na passagem de março para abril: Ano 61 do golpe militar que, em 1964, sacudiu a Nação, ao derrubar o governo democraticamente constituído do presidente João Goulart. Fato que o imortal escritor e jornalista, Carlos Heitor Cony, definiu como “Revolução dos Caranguejos” em antológico artigo publicado no calor da hora no Correio da Manhã (jornal carioca que o regime esmagou), diante da insistência dos golpistas de serem chamados de revolucionários, e em fina ironia ao movimento que fazia o país andar para trás e duraria 21 anos.
Era de tragédias e dramas humanos, políticos e sociais que estão sendo lentamente retirados dos subterrâneos da história e repostos na fraca memória nacional – principalmente dos jovens. Exemplo recente é o filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, premiado nos mais importantes festivais e mostras internacionais de cinema, e ganhador do primeiro Oscar da Academia de Hollywood para o Brasil (Melhor Filme Internacional), aclamado pelo público de todas as regiões do país. O filme relata, com força e sensibilidade, a dramática travessia da família do político Rubens Paiva, preso por agentes da ditadura, que desapareceu para nunca mais. Na tela, como figura mais emblemática e expressiva, Eunice, viúva do ex-parlamentar, representada pela atriz Fernanda Torres, na condução da saga familiar.
Na TV, esta semana, a Rede Globo promoveu a estreia do seu novo folhetim das 9h, o remake de “Vale Tudo”, sucesso da emissora, em novela, há mais de 30 anos, com roteiro atualizado aos dias de hoje. A trama se propõe relatar situações limites de cunho ético e levantar discussão sobre questões de princípios, no país com seus atuais contrastes e confrontos que se aprofundam nesta descontrolada era digital, em que bem e mal se diluem em mistura explosiva e perigosa, sem poupar gêneros nem idades. Como se vê na série “Adolescentes”, da Netflix, que surpreende e assombra pais, professores e a sociedade em geral.
E chego ao fato jornalístico que me deu gancho para este artigo: reportagem do Correio Braziliense, sobre mortos e desaparecidos no Araguaia, de (30/03/2025). Assinada pela repórter Jade Abreu, a investigação de imprensa (cada vez mais rara entre nós) com título “A dor que atravessa gerações: parentes de mortos no Araguaia (na ditadura) buscam respostas”, aborda com riqueza de informações, relatos e muita sensibilidade, o tema delicado sobre ossadas de mortos que estão há 20 anos num laboratório da Universidade de Brasília à espera de exames de DNA, e as famílias reclamam da demora. São diversos casos e situações que não caberiam neste espaço, mas um deles considero simbólico: O de Diva Santana, de 80 anos, 50 destes na busca dos restos mortais de sua irmã Dinaelza Santana e de seu cunhado Vandick Reiner Pereira Coqueiro. Os dois também foram executados no Araguaia, e acredita-se que os seus restos mortais estão na UNB.
Diva, ativista na defesa dos direitos humanos conhecida na Bahia, no Brasil e internacionalmente, conta que a última notícia que teve da irmã, foi em carta de 1971. A família seguiu vigiada. Vizinhos e amigos se afastaram enquanto a mãe repetia: “o mato tem vozes e as paredes têm ouvidos”, conta Diva na reportagem do CB. Tem mais, mas não cabe neste espaço. Recomendo a leitura da matéria do jornal, tão indispensável quanto ver o filme “Ainda estou aqui”. Para não esquecer jamais esta dor que atravessa o tempo e gerações.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do  site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br
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