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Claudio Pimentel

O X da questão

Por Cláudio Pimentel


Tribuna da Bahia, Salvador
06/09/2024 09:00
221 dias, 7 horas e 29 minutos

O irônico de existir num mundo que não tem respostas para tudo é constatar que o motivo é o fato de que nada está no seu lugar. É o caos no comando! Aperta o coração, assombra a razão, amarga o fígado. O sobe e desce da extrema-direita mundial, liderada por mumificadas figuras como Donald Trump, Elon Musk, Benjamin Netanyahu, Vladimir Putin e abestalhados de ocasião, como Javier Milei, Nicolás Maduro, Volodymyr Zelensky e demais bacorinhos causam-me palpitações quando assomam o noticiário com suas incoerências. Musk avançou os sinais vermelhos do universo tentando subjugar o Brasil. E fez do ministro Moraes um herói. Qual é o X da questão: destruir nossa democracia? Conta outra.
 
No início dos anos 1980, eu e colegas do curso de Comunicação, estressados com os rumos do país, começamos a presumir que os professores estavam preocupados com o futuro do Brasil. O clima era de débâcle. A ditadura caminhava desunida e, diante das divergências internas, tudo poderia acontecer: o retorno à democracia ou um regime mais duro que o de 1968, quando o AI-5 foi instalado e um mundo de gente partiu num rabo de foguete. Entre eles, o mais angustiado parecia ser o jornalista e correspondente internacional Newton Carlos, um dos professores mais queridos. Se eu acreditasse em velas, acenderia uma para ele todos os dias. Aprendi muito e passei com 10. Era exemplo de jovialidade e afeição.
 
De uma hora para a outra, trocou a elegância do terno pela casualidade da calça jeans, tênis e camisetas. Seria um bom sinal, não fosse as comparações que fazia do Brasil com outros países que passaram pela mesma situação que o país passava e caíram numa guerra civil. Ele advertia sobre a dificuldade que a censura causava às redações dos jornais, cuja presença, forte e autoritária, influenciava até no noticiário internacional. Os censores pressionavam. Newton caminhava pelos corredores e jardins da Faculdade como se estivesse atrasado para algum evento. Dava a impressão que o tempo estava acabando para ele. Foram momentos de expectativa.

Hoje, diante do que está ocorrendo, vejo-me como Newton. A sensação é de que a corda, seja aqui no Brasil ou lá fora, vai arrebentar, como resultado de um desequilíbrio difícil de resolver. Alguns atores deram férias ao “bom senso” e jogam pesado para se beneficiarem da situação. O tempo se esgota e a humanidade, ou pelo menos os mais poderosos, fazem as contas do que lhes cabe. Os nossos desequilíbrios, aliás, provêm do combate que travamos contra irrealidades, contra abstrações, da vontade de vencer o que não existe. Ou que não enxergamos graças aos extremismos que se apoderaram dos corpos e mentes. Somos quixotescos. A manipulação chegou ao “estado da arte”. As Fake News estão vencendo.

A ligação entre filosofia e política, racionalidade e democracia, depois de milênios de trabalho e construção, vai dando lugar a algo que ainda não tem nome e nem imagem, mas que já está nos rondando. Para mim, com potencial mais devastador que os totalitarismos experimentados no século passado, via Alemanha e União Soviética. O futuro está em crise. Não há mais crença ou ideal. Todo projeto coletivo desmoronou, suscitando desconfiança. A velocidade das mudanças torna tudo mais complexo e a multiplicidade de pontos de vista impera, tornando difícil a compreensão da realidade ou, mesmo, o seu sentido.

A filosofia, que deu conteúdo à política, se desmilinguiu em frases, que dá aos incautos um “verniz” pálido e bobo. Algumas delas, que valem até um tratado, significam-se por si só ou não. A enigmática “Eu só sei que nada sei”, de Sócrates, é um bom exemplo dos tempos atuais. Qualquer bate-papo será capaz de fazê-la surgir, mas ninguém será capaz de explicá-la. Mesmo assim, quem disser será considerado alguém de sabedoria. Virou clichê. E como ela, muitas outras: “O homem é o lobo do homem”, de Hobbes; “Penso, logo existo”, de Descartes; e “Tudo que é sólido desaparece no ar”, de Marx. Dissecadas de suas obras, viram “jingle” de qualquer um. Está aí o X da questão...

Cláudio Pimentel é jornalista.
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